sexta-feira, março 20, 2009

E esta companhia trabalha para o estado… Vergonha de ver…

Exmos. Senhores.. o Meu nome é Natalia Cunha e o meu email é: Natália.s.cunha@gmail.com.

Venho por este meio fazer uma denúncia que para mim é grave, mas bem pesquisado ainda é mais grave do que pode parecer.

Em nada tenho a ganhar, mesmo porque eu desisti dessa luta, mas tenho algo que me incomoda e sempre me incomodará, ser cúmplice, involuntariamente cúmplice de uma fraude que prejudica pessoas que com esta crise já muito pouco têm a dar, e depois desta cilada acabaram no nada tal como eu finalizei, não o faço por mim, mas para que não haja mais vitimas.

Em Setembro de 2006 tal como muita gente também eu procurava emprego, e respondi a um anuncio vindo do Net emprego, estranhamente e na altura para meu contentamento, fui aceite de imediato, mesmo por telefone, e assim tornei me funcionária ( call center) de uma empresa de gestão de frotas, nomeada Geotaxi, e assim dei eu entrada dando continuação ao pesadelo de outras pessoas que por ali também passaram, e ao que sei, não foram poucas.

O acordo foi feito da seguinte forma: horário das 9h da manha até as 21h da noite, durante quatro dias depois passava a ser mais quatro dias das 21h às 9h da manha e quatro dias de folga (isto inicialmente) qualquer tipo de pausa nos intervalos dos toques dos 6 telemóveis ao serviço, era no apartamento que me encontrava, pagamento a recibo verde, e salário 540€, pagos a partir do dia 10 de cada mês mas sem prazo limite para o pagamento, por outras palavras, quando o patrão quisesse pagar, pagava…, éramos naquele momento 4 pessoas na totalidade, anteriormente tinha havido 6 pessoas, que eu não conheci, a equipe que trabalhava comigo era pessoal que deu entrada com espaço de meses, ou seja um grupo novo, á excepção de uma funcionária que conseguiu estar ali 8 meses seguidos.

Mas não demorou um mês para perceber que algo ou mesmo tudo estava errado, sendo o trabalho a nível de sistema de computadores, variadíssimas vezes o sistema não trabalhava, e perante os taxistas dávamos informações mais bizarras possíveis, ora que tinha havido um corte de luz, ora era a TMN que tinha avaria etc etc etc… depois o horário era completamente penoso, bastava o atraso da colega na chegada que das 12 h para as 13h 14h ou mesmo chegou a ser 16h, e isto sem ganhar nem mais um euro alem do que foi referido inicialmente. E para se trabalhar 14/a 16h não era preciso muito, bastava que um dos funcionários fosse ao médico, ou tivesse algum contratempo e chegasse mais tarde. Ou seja fazer 14h seguidas diariamente não era muito difícil, e sem alternativa pois ninguém tinha chave do apartamento e a porta teria que ser aberta para o próximo turno.

No mês de Outubro, e porque o sistema teimava em estar sempre com avarias, fiz o meu papel de boa funcionária e telefonei á PT, que como bons funcionários que são pediram-me para identificação o nome da empresa, para mim não havia duvidas, Geotaxi, mas para eles não existia empresa Geotaxi, seguiu-se a ginástica do numero de contribuinte, ao qual também não correspondia em nada, e assim sendo limitei me a esperar que o patrão chegasse para lhe informar do acontecimento, e sem espanto da parte do senhor, ouviu e informou me que tratava ele do assunto. Nessa semana ouve grande alarido por aqueles lados, terminaram os serviços com a PT ficamos só com telefones de telemóveis, e segundo informação em breve teríamos outra operadora. De facto assim foi, o 210000000 deixou de existir e o 707 passou a ser reencaminhado para telemóvel 93. Foi mudado nos taxistas (nem todos por conveniência da empresa) os cartões de recepção de linha que deixaram de ser 96 para ser 93, e 3 semanas depois passamos a ter como operador de comunicação a cabo visão com o número 309 de onde foi também fixado o 707, mas não foi só esta surpresa que tive naquele mês, foi também o descontentamento geral de todas as funcionárias, e vim a saber que naquela casa, receber salário, era algo que estava definitivamente á mercê da disposição do patrão. E segundo fui avisada, (por todas) quem reclamasse que queria receber, o mais certo era ser dispensada… assim tinha sido todos os que por ali passaram, inclusive a senhora que eu substitui, que por varias vezes a vi quando ia pedir o que lhe deviam de salário.

Fiquei indignada e nem queria acreditar que não podia nem sequer perguntar quando é que eu recebia, e não resisti, dirigi me no final do meu serviço ao patrão e directamente lhe perguntei pelo meu salário, acho que o choquei com tanta ousadia, o que é certo é que ele se desculpou que não tinha dinheiro, mas que ia tentar pagar durante a semana do dia 15. E cumpriu á letra nessa quinta-feira às 17h, eu e mais a minha colega de turno, recebemos um cheque avulso no valor de 270 € e o restante em dinheiro, o cheque não foi levantado, por descuido meu e excesso de confiança, não reparei que o cheque não era da empresa mas de alguém que eu desconhecia o nome, e estava fora de prazo, telefonei-lhe informei-o de tal, e 3 dias depois lá recebi o dinheiro que faltava. Enfim segundo a minha colega de turno foi a primeira vez que recebemos o salário completo de uma só vez, menos sorte teve o outro grupo, uma das funcionárias por ter dito que queria o dinheiro, foi dispensada, sem receber nada…. E a outra (a tal senhora que já estava lá á 8 meses) foi insistindo e recebendo pequenas prestações de 20€a 40€ semanais, e para os receber mostrava ao patrão a factura da luz a pagar, a agua, até chegou mesmo a ter que mostrar um pedido medico para umas analises, para que ele lhe desse algum dinheiro, era bem visível a revolta, de todas, é o expor a privacidade em troca de um salário tão necessitado, mas o conformismo imposto e o silencio valia algum dinheiro do salário tão necessário, a única coisa que mudou foi o dialogo entre todas, já não havia segredo sobre a má postura da entidade patronal, e foi confessado que pelo menos á 8 meses que sempre fora assim, pelo entendido todos os que por lá passaram saíram sem salários nem direito a reivindica-los. Claro que até Janeiro a senhora que se foi embora ainda não tinha recebido o ultimo salário do mês que trabalhou, nem o que estava em atraso. A saída de uma das funcionárias alterou-nos os horários passamos a fazer 2 dias das 9h às 21h 2 dias das 21h ás 9h e dois dias de descanso. No inicio de Novembro o salário de Outubro não caiu e foi pago com muita pressão, todos os dias se bateu na mesma tecla e lá vinha uns 40€ 50€ de vez em quanto, comecei a entender o porquê de suplicar tanto e aceitar 20€ ou 40€ de vez em quando, é que tudo fica de pernas para o ar, nem a renda nem os pagamentos mais básicos conseguimos pagar nas datas devidas, e dei por mim a também dar justificação de minha vida e minhas obrigações. A funcionária mais antiga não aguentou mais a pressão e acabou por sair com 2 meses sem salário e algum em falta do último 3 mês. E mudança de horário todos os dias das 9h até as 21h/ 21h às 9h com dois dias de descanso no horário nocturno, muitas das vezes, eu também fiz 9h até as 21h por não ter substituição. Era sem duvida uma situação caótica, mas tal como todas tinha ali prendido 2 salários em atraso, cansada também desta situação forcei um pouco mais o patrão que numa conversa franca e casual me confessou que não entendia tal impaciência, ele mesmo via nos jornais e telejornal funcionários com 2 meses de salários em atraso e que continuavam a trabalhar, e depois estavam a dever-lhe muito dinheiro e que a culpa era da ANTRAL que não lhe pagava o que lhe devia á mais de 4 anos. Sem comentários…..

Com tantas queixas, e redução de pessoal, que se até então pouco ou nada falávamos porque nos cruzávamos apenas para abrir e fechar a porta, com apenas duas funcionárias e a presença das outras de vez em quando que insistiam inutilmente, para receber o salário em atraso, foi inevitável, as conversas e observação de movimento naquela empresa, o facto é que todos os dias os motoristas de táxis se deslocavam ás instalações e deixavam em dinheiro os pagamentos dos serviços prestados, em média 25€ / mês num conjunto de mais ou menos 600 carros pelo menos os mais visíveis, pois TODOS os táxis de cascais, e albufeira (a que não tínhamos acesso ao serviço) estão adicionados e fazem os pagamentos por transferência bancária, como alguns privados ,como por exemplo a moviflor ( a segurança da frota é da responsabilidade da Geotaxi pelo menos assim entendi), os recibos alguns vão pelo correio, ( eu própria paguei muitos selos do meu dinheiro para enviar facturas) com o nome de Geotaxi e o tal numero de contribuinte que não corresponde a nada a não ser a própria Geotaxi, vim a saber então que afinal a empresa não está registada como Geotaxi mas sim como JAMGEOTAXI ou JAM FROTAS bem é mesmo confuso saber com clareza que empresa é e qual delas funciona mesmo, e desta forma pouco ou nada se faz. Eu própria a pedido do patrão activei serviços aos hotéis de Albufeira para serviços locais de táxis, e até agora ainda não sei em que nome eu falei….

Os meses foram se passando e nós também já cansadas desta situação que tornou nossas vidas caóticas, pois os horários de trabalho foram cumpridos á regra, o sistema de horários não permitia procurar outro trabalho e as nossas obrigações ficaram todas em falta também. Os horários voltaram a mudar pois não aguentávamos tal instabilidade e carga horária, a salientar que tínhamos constantemente 6 (seis) telemóveis a tocar continuamente para a realização de serviços, passo a explicar, rede 93 rede 96 rede 91 rede tv cabo e 707 e dois telemóveis destinados ao atendimento ao taxista. Então decidiram que o próprio patrão ficaria de noite visto ser serviço menos activo, que o diurno. Em finais de Dezembro enquanto esperávamos o salário que deveria ter sido pago em princípio de Novembro, e algum restante de Outubro, apareceu então o que antigamente todos temiam, eu desconhecia tal receio porque nunca tinha assistido. A esposa do patrão, todos a receiam, e com ela todos saiam por medo e por incapacidade de contestar, confesso que contestar não dá em nada eu sei…. Mas ficar calada também não. Pois bem o receio é que a senhora se diz advogada, já me tinham dito que era juíza, mas perguntei-lhe directamente e ela confirmou que era advogada, e como tal, conhecia muito bem as leis, e que sabia que nós nada poderíamos fazer…. Resumindo salários em atraso é mesmo para esquecer…. Eu e minha colega continuamos a trabalhar na esperança que tudo se recompusesse… e ficamos eu até Janeiro e ela mais duas semanas de Fevereiro. Segundo a senhora advogada, não podemos contestar nada, só lá estávamos porque queríamos, e como não tinham dinheiro não pagavam…. (Desculpem me a vulgaridade desta carta mas para que me entendam claramente tenho que ser concisa e directa, só assim podem calcular este tipo de escravatura a gente pobre que continua a lutar no ultimo fio da meada pelo sustento, e se confronta com gente que está a cima da lei e impune de todos os danos seja eles qual forem) Começou então a estar mais presente no dia-a-dia da empresa o patrão sempre que chegava a altura de ser confrontado com os pagamentos em atraso, vinha sempre acompanhado com a esposa sócia da empresa e advogada, o dialogo era um monologo, ela falava e pronto há que aceitar, e a nossa vida continuou de pernas para o ar. As noites começaram a ser feitas pelo patrão, e os fins-de-semana pelos filhos, claro que nunca mais vimos os nossos salários, e o dinheiro quando aparecia vinham logo os dois de propósito recolher, e sem qualquer tipo de justificação pela falta de pagamento dos salários, em Janeiro também o patrão resolveu fazer algo que me chocou imenso me pôs mesmo em lágrimas de humilhação, mandou chamar alguns dos bons voluntários taxistas e expondo-nos á frente deles como se de duas órfãs se tratasse, lhes pediu que fosse dado uma quantia em forma de caução, para nos poder pagar o salário, os taxistas visados foram os de Sintra cerca de 48, e apelando ao bom coração daquela gente todos contribuíram com 120€ mais a cota que passou a ser 40€ mensais (desconheço se esta quantia foi só para os de Sintra ou passou a ser para o geral), mas mesmo assim não vimos nem um euro de salário, vimos apenas a humilhação de TODOS saberem que não recebíamos salários, começamos a ser chacota de alguns taxistas de Lisboa mais frios e afoitos que chegaram a chamar-nos o batalhão dos voluntários (isto dito por um taxista de amadora sem qualquer constrangimento) que ninguém compreende que estávamos ali a cumprir fielmente os horários de serviço sem ganhar nada, é um facto, mas também quem está na pele de ter tudo em divida por receber salários às prestações? O que é certo é que esta humilhação me fez parar, o facto é que eu tenho 2 filhos para sustentar e estar presa ao que nunca iria ver não me levava a nada, e dificuldade por dificuldade ao menos não gastava dinheiro no passe. E assim saí também, não deixei de ouvir da suposta advogada que não tinha direito a nada, que estava ali porque queria, e que se insistisse chamaria a polícia por estar a invadir um espaço privado. Quanto á minha colega depois de ver fechaduras de portas mudadas falta de dialogo e falta de todas as condições possíveis para trabalhar ajuntando a renda de casa em atraso… também saiu, e ficamos também nós sem nada.

O mais espantoso e o que eu mais receava, á umas semanas a trás, e como já o patrão não atende telemóveis, telefonamos para a central, espantoso…. Já lá está mais um call center… e quer queira quer não tudo vai voltar ao mesmo…. Contratar mais gente a recibo verde, formar uma equipe e 6 meses depois ter mais gente no caos, e recomeçar esta história…

Como disse inicialmente eu para mim já dispenso os 1000 e tal euros que me devem, o pesadelo é grande demais…. Mas não haverá maneira de parar de fazer vítimas? Afinal quem vai trabalhar turnos de 12 horas seguidas sem sair da cadeira e ganhar a recibo verde 540€ é mesmo porque está a lutar com dignidade mas já nos seus limites… terá esta gente que escrúpulos não tem nenhuns o direito de destruir assim impunemente estas vidas? Porque é que não há controlo nestas situações? É tudo ilegal ou parte é ilegal, mas mesmo assim não se faz nada?

Das duas uma…. Ou ajudam este homem a colocar a empresa com uma boa direcção, afinal o serviço é extremamente bom…. Ou o chamam á responsabilidade pelo mal que ele causa a tanta gente, e tão friamente.

Eu estou a fazer a minha parte….

por outras palavras, entrando eu também naquele jogo, tínhamos que expor as nossas vidas para podermos ter algum dinheiro.

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